Amarrações do amor

Amarrações do amor

No célebre grimório Demonology (1597) do Rei James I de Inglaterra (1566 –1625), dá-se nota que o primeiro acto de uma bruxa depois de fazer contacto com um espírito, é exigir do espírito o seu verdadeiro nome, pelo qual ele pode ser convocado, e podem-se-lhe daí em diante atribuir tarefas e missões através de bruxedos. E porque a bruxa tem Pacto com o Diabo, ela nem sequer tem de fazer essa exigência, pois ao contrário daquilo que fazem com qualquer humano comum, os demónios não hesitam em revelar-lhes o seu nome, nem se negam a faze-lo, nem tem de ser compelidos a revela-lo. A partir do momento em que a bruxa lhe diz o seu nome secreto de bruxa, o demonio reconhecedo-o então imediatamente retribui apresentando-se com o seu nome verdadeiro.

No notório e influente grimório «Compendium Maleficarum» , ou o «Compêndio das Bruxas» de 1608, do notório padre e demonologista Italiano Francesco-Maria Guazo (n. 1570), assim podemos ler que «Toda as bruxas juram obediência e sujeição para com o Diabo. Prestam homenagem e vassalagem ao demónio através de cerimónias obscenas, de devassas luxurias e de heréticas perversões. Depois, colocam as mãos sobre um grande livro negro do Diabo que lhes é apresentado. Trata-se do Livro dos Mortos do Diabo, o oposto do Livro da Vida do Deus cristão. Colocando a mão em cima do livro, as bruxas ligam-se ao Diabo através de juramentos blasfemos de nunca retornar á fé cristã, não observar os preceitos cristãos, e não realizar nenhuma obra da Igreja. Não aceitarão mais os divinos preceitos de Deus, mas sim os impuros desejos do Diabo. Jamais frequentarão novamente os sagrados ritos da Igreja, mas sim atenderão apenas aos profanos Sabbat e Missas Negras da magia negra. Estes juramentos nocturnos são prestados á meia-noite, em sabbat satânico.»

No Compêndio das Bruxas, ou o «Compendium Maleficarum», podemos assim igualmente ler que «As bruxas prometem esforçar-se com todos os seus poderes e por todos os meios, para atrair homens e mulheres ao pecado, desviando-os do caminho dos mandamentos cristão». Para isso, celebração trabalhos de magia negra através dos quais farão os prodígios do Diabo manifestarem-se nas vidas de homens e mulheres, infestando-lhes a existência. Também atrairão quantas mais almas que lhes for possível a caírem nas tentações do demónio, seja levando-as a entregar-se aos caminhos da magia negra e da bruxaria ao invés de aos braços da Igreja, seja acolhendo, promovendo e amparando todos os pecados da luxuria, da fornicação, do adultério, dos egoísmos, das vinganças e cobiças humanas. Assim se levam almas á perdição, ganhando-as para o reino do demonio. Quando o Diabo por se ter agradado, escolher uma rara alma entre mil, para a chamar ao oficio de bruxa, também se comprometem as bruxas em tudo fazer para guiar essa alma ao pacto com o diabo, assim angariando mais uma nova bruxa para as hostes do demónio, e do culto satânico. As bruxas serão por isso missionarias do Diabo, conforme freiras e padres são missionários da Igreja. Procurarão atrair mais e mais homens e mulheres aos impios serviços da magia negra, conforme também angariarão novas noviças e noviços para o sacerdócio a Satanás, ou seja, novas bruxos e bruxos.

O Diabo pessoalmente incorporado num homem por possessão demoníaca, ou um representante em sua vez, administrará ás bruxas os profanos sacramentos do baptismo satânico, por oposição ao sagrado baptismo da Igreja. Deverão as bruxas no momento do baptismo abjurar o cristianismo, renunciado aos seus preceitos e anteriores sacramentos recebidos. Depois, devem as bruxas fazer a confirmação deste baptismo.

Diz o Compêndio das Bruxas que «Após confirmação deste juramento feito no baptismo, a bruxa passará a ser instruída nas artes da magia negra, ao passo que recebe do demonio um novo nome de baptismo. Dai em diante, será esse profano nome que identificará a bruxa diante dos demónios e todas as forças do inferno. Será a esse nome que espíritos e entidades responderão quando a bruxa lhes apelar através dos seus bruxedos. Daí que quando um humano normal tenta fazer um rito, por muito que ele esteja tecnicamente bem feito, porem ele não resulta, pois falta-lhe a chave fundamental: o nome da bruxa. Sem esse nome, as forças do mundo dos mortos, do mundo dos espíritos, do além-túmulo, não respondem. Logo, não há resultado algum. Apenas invocando o seu nome de bruxa, é que o apelo é escutado, e essas forças vem ao chamamento do bruxedo.»

Por volta dos anos de 1649, existiu uma célebre bruxa na região de Bradford, Inglaterra. Tratava-se da bruxa Jane Kighly, e ela era tão procurada quão temida, porquanto os seus trabalhos de magia negra eram tão contagiantes quanto infalíveis. A bruxa Jane já tinha celebrado o seu pacto com o demónio, já tinha recebido o seu baptismo satânico, e por isso invocava os demónios que deseja ter ao seu serviço para todo o tipo de magia negra. E algumas dessas magias negras eram amarrações do amor.

Certa vez, uma mulher requisitou uma amarração á bruxa Jane, pois que o seu amado recusava-se a pedi-la em casamento. O homem chamava-se Sr. Hobson, era um abastado criador de porcos na região, e se bem que lhe agradava desfrutar alguns momentos de prazer com a mulher, porem não fazia a mínima intenção de desposar dela. A bruxa Jane lançou-lhe um bruxedo, e passados tempos o sr Hobson começou a ser assombrado por sonhos e visões nocturnas da bruxa. Numa dessas visões, a bruxa acariciou-lhe o joelho, e murmurou-lhe que casasse com a mulher. O Sr. Hobson julgou tratar-se apenas de um mero sonho, e não deu mais importância ao assunto. Mas não era apenas um sonho. Na semana seguinte deslocou-se a uma importante feira suinícola onde tinha grandes negócios previstos, e o joelho que a bruxa lhe tinha acariciado no sonho começou a inchar-lhe de uma forma tão dolorosa, que teve de abandonar o evento e perdeu os seus negócios. Dias depois, a bruxa passando por um dos seus melhores porcos, parou e acariciou-o como tinha acariciado o joelho do sr Hobson, declarando que o porco enlouqueceria e morreria. E assim aconteceu, havendo o porco enlouquecido e morrido. O Sr. Hobson viu-se assim perseguido por uma série de sinistros eventos que o castigaram e fustigaram, até que se apressando para ver a amante, logo lhe propôs casamento. Assim que o Sr. Hobson cedeu á mulher que o tinha mandado amarrar, imediatamente todos os seus padecimentos desaparecerem e esfumaram-se tão misteriosamente quanto tinham aparecido. Assim opera as mais fortes amarrações: contaminando, castigando e fustigando na criatura amarrada até ela ceder. Cedendo, todos os tormentos cessam. Porem, teimando em resistir, então os tormentos persistem e insistem até á sua desgraça. Por isso, a pessoa não tem alternativa senão ceder. E ela cede sempre.

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