Amarrações do amor impossível

Amarrações para o amor impossível

No capitulo V do Livro II do célebre grimório Demonology (1597) do Rei James I de Inglaterra ( 1566 –1625), faz-nota de como as frequentemente as bruxas consultam aquilo a que se chama o seu «Pequeno Mestre». O Pequeno Mestre é um demónio que acompanha sempre uma bruxa ao longo de toda a sua vida como bruxa. È como um anjo guardião da bruxa, só que na versão oposta, ou seja, é o demónio que habita com a bruxa, e na bruxa. Alguns indicam-no como sendo o espírito familiar demoníaco da bruxa. Cada bruxa tem por isso o seu próprio «Pequeno mestre», sendo que depois há o «Grande Mestre» de todas as bruxas e demónios, que é Satanás. O pequeno mestre auxilia a bruxa nos seus trabalhos de magia negra, ensina-lhe os segredos e formulas das artes ocultas, intercede junto de Satanás em favor da bruxa e das suas bruxarias, assim como se encarrega de ir executar os bruxedos. O pequeno mestre também serve de intercessor da bruxa junto do Diabo. Estes pequenos mestres podem ser demónios designados para angariar e acompanhar uma bruxa ao longo da sua vida, mas também podem ser espíritos de bruxas ou bruxos já mortos, e que apadrinham uma bruxa. Toda a bruxa tem um pequeno mestre, e ele tanto pode acompanhar a bruxa invisivelmente apenas na forma de espírito, como também pode por vezes incorporar num animal através de possessão demoníaca. E é esse pequeno mestre que sussurra á bruxa sobre as formulas infernais que a bruxa deve empregar num trabalho de magia negra, inclusive nas mais fortes amarrações.

No «Compendium Maleficarum» , ou o «Compêndio das Bruxas» de 1608, do notório padre e demonologista Italiano Francesco-Maria Guazo (n. 1570), é descrito como o beato Jordão da Saxónia ( 1190 – 1237), um brilhante teólogo alemão e Mestre Geral da Ordem dos Frades Pregadores, estava descrito como celebrando Pacto com o Diabo, e depois da bruxa ter recebido a marca do Diabo, a cada bruxa é designado demónio chamado demónio «Magistellus», ou um espírito demoníaco familiar.» Esse, é o Pequeno Mestre da bruxa. Frequentemente, no decorrer do Sabbat o demonio familiar incorporava por possessão demoníaca num homem, e a bruxa entregava-se-lhe em devassa luxuria. Também ocorreu por vezes o demónio familiar incorporar num animal como um bode negro, e terem depois ocorrido profanas obscenidades.

Foi seguindo estes preceitos que Marie Dalabert se converteu em bruxa, e depois ganhou a sua alcunha de «o gato», que na verdade não era senão o seu nome de baptismo satânico.

A alcunha de «o gato», nasceu a partir do momento em que cada vítima dos seus bruxedos, antes de começar a sofrer os efeitos da magia negra, via sempre um gato a rondar-lhe a casa, ou a cruzar-se insistentemente no seu caminho. O gato na verdade era o espírito demoníaco familiar da bruxa, o «Pequeno Mestre» de Marie, e que incorporando num gato, levava o bruxedo a quem a bruxa o destinasse.

Certa vez, a encomendaram á bruxa Marie Dalabert uma amarração dirigida a uma jovem recém-casada. A jovem era a filha do notário da vila, o mestre Mathieu Tappie, e fora cobiçada por um certo cavalheiro com quem tinha namorado, porem acabando por casar-se com outrem, e dele tido um bebé. Não desistindo da sua paixão, o antigo namorado queria mesmo assim possuir a jovem recém-desposada, e para isso solicitou os serviços da bruxa. A bruxa Marie Dalabert preparou o trabalho de magia negra, e depois soprou no ouvido do seu gato o nome da mulher a quem se destinava o bruxedo. Nos dias seguintes a jovem recém-casada e mae de um bebé nascido á meses, começou a cruzar-se recorrentemente com o gato, até ao ponto de chegar a casa e encontrar o gato junto do berço do bebé, apesar de todas as portas e janelas da casa estarem trancadas. O gato olhava fixamente para a criança, e depois esfumou-se no ar como uma miragem. Dai em diante, a jovem recém-casada era todas as noites assombrada por temíveis visões, espectros e aparições, num castigo de tormentos que não cessava. Mesmo assim, a jovem recusava-se a ceder ás tentações de ir procurar pelo antigo namorado, e permanecia firme na sua vontade de se manter fiel ao esposo. Foi então que o seu bebé adoeceu gravemente, e para sua grande aflição, nem os médicos conseguiam encontrar explicação para o mal que consumia a criança.  De tanta pressão sofrer, a jovem acabou por ceder as tentações, e foi entregar-se á lascívia do antigo namorado. Assim que o sacrilégio do adultério estava a ser praticado, a sua criança melhorou, e os tormentos acabaram. Porem, houvesse a teimosia da jovem recém-casada persistido, e o desfecho teria sido bem diferente. A verdade é que é assim mesmo que operam as mais fortes amarrações: elas contaminam e castigam a vítima até ela ceder a quem a mandou amarrar. Cedendo, acabam-se os castigos, e tudo fica bem. Porem: teimando em resistir ao bruxedo, então a vitima persiste a sofrer todo o tipo de padecimentos até que ceda, ou até ao ponto da sua desgraça. Seja como for, a pessoa nunca mais se livra do bruxedo, nem de quem a mandou embruxar. Nunca mais. E por isso, a pessoa não tem alternativa senão ceder.

Nos seus escritos, o notório padre e ocultista Montagne Summers (1880- 1948),  faz nota de uma bruxa que por volta dos anos de 1611, existiu na França. Tratava-se da bruxa Jeannette d’Abadie , que tinha uma vasta clientela, e executava reputados trabalhos de magia negra. Tinha sido porem na sua juventude que a bruxa havia entrado em contacto com o mundo da magia negra, através de inocentes invocações de espíritos, que acabaram por resultar na manifestação de um demónio. O demónio seguiu-a, acabando por incorporar num homem, que seduzindo a jovem a tomou em luxuria, e a levou a celebrar Pacto com o Diabo. Esse era o «Pequeno Mestre» ou espírito familiar demoníaco da bruxa. Dai em diante, a bruxa Jeannette passou a prestar vassalagem a Satanás, e a participar em cerimónias satânicas nas quais colocando as suas mãos sobre o livro negro do Diabo, fazia blasfemos juramentos a Satanás, prometia entregar-se a todo o tipo de obscenidades com os demónios, e encomendava-se a praticar as artes da magia negra com toda a devoção. E tão grande era sua devoção, que os seus bruxedos eram sempre amparados pelos demónios invocados, resultando em efeitos espantosos. A reputada bruxa francesa produziu celebres amarrações para os casos mais impossíveis, sempre com a ajuda do seu «Pequeno Mestre», demónio que lhe recitava as mais fortes fórmulas para poções e pós de amarração, assim como os mais irresistíveis encantamentos. E a verdade, é que as amarrações da bruxa davam sempre efeitos, até nos assuntos mais impossíveis.

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