Amarrações do nó

Amarração do nó

Jean Bodin ( 1520-96), foi um jurista e filosofo francês que se debruçou sobre o estudo da bruxaria. A publicação da obra «De lá Demonomanie des Sorcieres» em 1580 foi uma obra de referência no estudo do fenómeno da bruxaria. Foi um dos primeiros autores da falar do termo «amarrações», ás quais chamou «ligatures», através das quais as bruxas podiam constranger as pessoas espiritualmente, levando-as a – sob a influencia de castigos espirituais infligidos espiritualmente á alma da pessoa embruxada – agir de certa forma desejada pelo bruxedo .

Os feitos causados pelas bruxarias ou trabalhos de magia negra das bruxas , chamavam-se na antiguidade de maleficia. De acordo com as teses teológicas da Idade Media, como a origem do poder das bruxas é malévolo, – provindo de Pactos com demónios – , então os feitos e efeitos das suas bruxarias tendem a ser malévolos. Em 1435, o teólogo Johannes Nider categorizou os fenómenos de maleficia ou bruxaria em sete grupos. De acordo com Johannes Nider, as bruxas podem causar mal de sete formas diferentes: inspirando luxuria através de amarrações, instigando ao odio através de separações, causando impotência no homem ou infertilidade na mulher, gerando doença e enfermidade, gerando circunstâncias que acabam por tirar a vida, conduzindo á loucura, causando danos e prejuízos em propriedades ou animais. Todos estes fins são alcançados através de maldiçoes lançadas através de bruxarias de magia negra, sendo que esses trabalhos de magia negra apelam sempre á acção de espíritos de trevas, de assombrações, de aparições, e de almas de mortos.

Nos textos dos séculos XVI e XVII, mencionam-se as ligature – actualmente conhecidas por amarrações – como formas de maleficia ou magia negra já com séculos e séculos de existência.

Uma das formas de amarração mais poderosas e reputadas na Idade media, era a amarração do nó. No «compendium maleficarum» , ( o «compêndio das bruxas» de 1608), de Francesco-Maria Guazo, são descritas as varias finalidades para que a amarração do nó podia servir. Segundo e célebre exorcista e demonologista Francesco-Maria Guazo, na sua obra «compêndio das bruxas» a amarração do nó poderia levar um casal a detestar-se, mas também a permanecer ligado mesmo contra vontade de um deles. A amarração do nó poderia também causar impotência sexual no homem, ou atiçar o seu desejo por uma mulher que o amarrasse. A amarração do nó poderia causar infertilidade na mulher, como também poderia levar á gravidez onde antes era julgada impossível.

A amarração do nó era chamada de Aiguillette em França, e de Ghirlanda dele Streghe em Itália, e era celebrada pela bruxa dando alguns nós ao longo de uma corda, ou de um pedaço de couro. O bruxedo apenas se desfaria se a bruxa desfizesse os nós. O notório demonologista Jean Bodin observou estas bruxarias de amarração pessoalmente em 1567, vendo que havia cinquenta formas diferentes de dar os nós, a que acresciam outras dezenas de encantamentos diferentes, de forma a que se alcançasse um certo efeito desejado. Conforme o nó e o encantamento, então um efeito distinto ocorreria na vítima do trabalho de magia negra de amarração. O pedaço de corda ou couro, deveria sempre ser escondido dos olhos da vítima. Alguns dos sintomas que a pessoa embruxada por esta amarração poderia sentir, seriam o aparecimento de inchaços no corpo, dores no corpo, febres inesperadas, dores inesperadas, sangramentos inesperados, vómitos súbitos, grande cansaço, arrotar muito, sentir um grande peso sobre o corpo, sentir um grande abatimento, sonolência anormal, enjôos, fraqueza, abatimento, insónias ou sonhos perturbadores. A vitima da bruxaria de amarração sofreria também de visões sobrenaturais, assim como poderia começa a ver manifestações de espíritos ocorreram no seu lar, ou á sua volta. O bruxedo de amarração nunca seria quebrado, a não ser que os nós fossem desfeitos pela própria bruxa, ao mesmo tempo que proferia os encantamentos correctos.

Mas o bruxedo de amarração não estaria completo sem o encantamento amoroso adequado. Chamavam-lhe poções amorosas, mas na verdade nem todas se tratavam de poções liquidas que se dão de beber a alguém. Eram na verdade bruxedos amarração , fossem feitos eles numa poção, ou de outro modo. Tais bruxedos de amarração visavam trazer alguém desejado a quem lhe desejava, independentemente da pessoa o querer ou não, ou seja: tratava-se de fazer a pessoa desejada vir entregar-se á força da bruxaria, quer ela quisesse, ou quer ela não quisesse. E por isso, a pessoa não tem alternativa senão ceder e entregar-se.

Montague Summers (1880- 1948), foi um padre Inglês que se debruçou sobre o estudo das bruxas, da bruxaria e dos fenómenos da magia negra. Numa das suas obras, o padre conta como a magia negra e a bruxaria foram desde cedo previstas na lei dos reinos europeus, uma vez que os seus efeitos eram temidos e temíveis. O mais antigo documento encontrado de legislação francesa era o Lex salica, que foi instituído pelo rei Clovis ( f. 511), fundador da França. Já nessa lei previam-se penalizações para quem praticasse magia negra com finalidades prejudicais, ou que usasse do bruxedo conhecido pelo «Nó das bruxas».

As amarrações do nó, também conhecidas pelo «Nó das bruxas» ou a «Escada das bruxas», é um dos mais antigos bruxedos conhecidos da história europeia. È na verdade uma das mais antigas amarrações de que há registo histórico. Em trabalhos de magia negra, essa bruxaria era feita através de uma corda ou de uma longa tira de couro. No caso de se tratar de couro, eram tiras de couro de boi preto, ou de cobra. Nesta amarração do nó, diversos nós eram enlaçados ao longo da corda ou tira de couro, sendo que em cada laçada era enfiada uma pena de ave negra como um galo preto, um corvo, ou qualquer outra ave completamente negra, sem a mínima ponta de branco. Colocavam-se também ossos de defunto que houvesse morrido sem ser baptizado, ou de um condenado á morte que não recebeu extrema unção, ou de suicidas, ou de falecidos abandonadas sem devidos ritos funerários. Eram assim e sempre ossos de uma alma amaldiçoada e penada. Nos enlaçamentos ou nós da corda, podia-se também enlaçar um pedaço de cabelo da vítima, ou um pedaço da sua roupa, um pequeno objecto da sua pertença, ou até um efígie representativa da vitima. Dessa forma, o bruxedo celebrado na escada da bruxa ficava ligado á vitima, e conforme era feito na corda, também sucederia á vitima. Os nós iam sendo enlaçados pela corda, o que lhe concedia a aparência de uma escada de corda.  Vários nós eram dados ao longo da corda, e para cada nós havia um encantamento. Havia também dezenas de tipos de nós diferentes para cada tipo de finalidade que se desejava alcançar, assim como os seus respectivos encantamentos. Alguns dos nós e seus respectivos encantamentos, destinavam-se a lançar terríveis maldiçoes, e uma vez estando o trabalho de magia negra feito, então a corda era escondida num local secreto. Enquanto a corda não fosse descoberta e os seus nós desfeitos, a maldição não abandonaria a sua vítima. E por isso, a pessoa não tinha alternativa senão ceder.

Nas sinuosas montanhas de Auvergne em França, por volta dos anos de 1597, haviam dois célebres bruxos, conhecidos pelos seus famosos bruxedos do nó, ou amarrações do nó. De acordo com o Malleus Maleficarum de 1486, estas amarrações do nó eram usadas com efeitos impressionantes pelas bruxas alemãs. Também de acordo com o Compendium Maleficarum de 1608, fazem-se alusões a estas amarrações do nós, ás quais na Itália se chamavam «la ghuirlanda delle streghe». As bruxas Janet Clark e Janet Grant, eram duas bruxas famosas na Escócia, onde por volta dos anos de 1590 faziam as mais fortes amarrações do nó. Sabe-se assim que estas amarrações do nó existem há séculos, e são fortíssimas.  Estas amarrações uma vez feitas, acabavam por tornar os homens sexualmente impotentes, ou as mulheres ficarem frígidas. Dessa forma, o homem ou a mulher embruxada eram impedidos de ter relações sexuais dentro de seu matrimonio, apenas conseguindo satisfazer-se carnalmente com a pessoa que os mandava embruxar. O aprisionamento tanto persistia, que a vítima do bruxedo, já em desespero, acabava por se ir entregar e saciar-se com quem a mandou embruxar. Porem, teimando em não o fazer, então o seu padecimento persistia até á sua desgraça, fosse pela ruína do seu casamento, fosse pela depressão causada pela moléstia. Fosse como fosse, uma coisa é certa: a vítima da amarração do nó nunca mais se livrava do bruxedo, nem da pessoa que a mandou embruxar. Nunca mais. E por isso, a pessoa não tinha alternativa senão ceder.

Houve vários casos historicamente documentados de como este trabalho de magia negra podia infestar pessoas com temíveis maldiçoes. Em 1711, houveram sete bruxas na Irlanda, conhecidas pelas bruxas de Magee. Nessa altura, uma mulher de nome Mary Dunbar sofreu de uma inesperada indisposição, teve terríveis convulsões, e a sua saúde começou a debilitar-se de um dia para o outro, quase ao ponto de quase morte. Ninguém encontrava explicação para o estado de saúde da mulher, mas a verdade é que as bruxas Magee lhe tinha lançado o bruxedo do «Nó da bruxa», no qual havia sido amarrado um napperon que tinha sido furtado da casa de Miss Dunbar por uma mulher que queria o seu noivo. A mulher encomendou uma bruxaria para afastar Miss. Dunbar do caminho, assim abrindo alas á perspectiva de um casamento. Uma vez estando o bruxedo feito e a corda escondida num local secreto como manda o ensinamento deste tipo de trabalho de magia negra, imediatamente a Miss Dunbar caiu sob o efeito da maldição, e sucumbiu á doença do dia para a noite, e sem que os médicos encontrassem qualquer explicação. Depois disso, o noivo da miss Dunbar acabou por casar-se com a mulher que tinha encomendado a amarração do nó. Anos depois dos seus padecimentos, em 1886 foi acidentalmente descoberto num campanário de uma igreja uma corda com nós enlaçados nos quais estava um napperon, assim como penas de ave, e ossos de um animal. Uma das idosas da aldeia reconheceu o objecto, dizendo tratar-se de uma «Escada das bruxas», aquela mesma que tinha sido responsável pela maldição de Miss Dunbar. Uma das pessoas que viu a corda era de origem italiana, e imediatamente reconheceu o que era, afirmando que se tratava de «la ghuirlanda delle streghe», que era o nome pelo qual a bruxaria era conhecida em Itália.  Assim se comprovava o poder da magia negra, e deste tipo de trabalho de magia negra.

Um dos casos mais famosos do uso deste tipo de amarração, ocorreu na Inglaterra do seculo XVI. Anne Boleyn (1507-1536) foi uma rainha inglesa que casou com o rei Henrique VIII em 1553. O casamento deu-se em privado e secretamente, enquanto que ainda estavam em curso as negociações para a dissolução do anterior casamento do rei com a Catarina de Aragão, através da qual se havia celebrado uma aliança com o reino de Espanha. Anne Boleyn foi secretamente uma bruxa, e celebrou um rito de amarração ao rei Henrique VIII, conseguindo assim aquilo que parecia impossível, que foi suceder como rainha de Inglaterra a um casamento que era quase impossível de dissolver. A igreja de Roma e o Papa opunham-se fortemente á dissolução do matrimonio real, pelo que há rumores que a bruxa se terá virado para os poderes opostos aos da Igreja de Roma, e terá celebrado uma Missa Negra para desposar do rei não pela lei de Deus, mas sim pela lei da magia negra e do Diabo, coisa que conseguiu com sucesso. As amarrações chegaram mesmo a ser previstas na Lei Inglesa, nos «Witchcraft Acts» de 1563 e 1604. Neste tipo de bruxedo de amarração são usualmente usados certos ingredientes. Algumas vezes o bruxedo de amarração requer que se usem pelos púbicos da vitima do trabalho de magia negra. Um tal caso tornou-se celebre quando por volta de 1590, um certo professor Dr John Fian, havendo-se enamorado de uma das suas alunas, obteve alguns pelos púbicos da jovem com a ajuda do seu irmão. O bruxedo de amarração resultou, mas o caso ficou conhecido e causou alguma agitação nos meios sociais. Outro notório ingrediente das amarrações, é raiz de mandrágora, que desde sempre tem sido indicada para uso ou aplicação neste tipo de bruxaria de amarração. Outro ingrediente reconhecidamente eficaz nas amarrações, é o cravo-de-defunto, ou a calêndula. Do mesmo modo, feito de sapo, pó de aranha, sémen, e coração de animal preto, são outros ingredientes comuns numa formula de amarração. Na Idade Media havia também um outro trabalho de magia negra famoso mas pouco divulgado, chamado os «Aneis do Olvido» ou «Aneis do Oblivio», que as damas antigas usavam quando queriam esquecer um amor antigo,e  partir para um novo amor. Era feito através do uso de um pó de lagarto no bruxedo, e sua formula é secreta, pois usada em doses inapropriadas pode levar a uma total amnésia.

Estas formulas são ancestrais, com séculos e séculos de existência, e constam dos mais antigos grimórios de magia negra.

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