COMPENDIO MALEFICARUM ,
ou COMPÊNDIO DAS BRUXAS
No «compendium maleficarum» , ou o «O COMPÊNDIO DAS BRUXAS» de 1608, do padre Italiano Francesco-Maria Guazo (n. 1570) , são descritas as varias finalidades para que uma bruxaria podia servir, assim como os seus poderosos efeitos. O padre observou pessoalmente casos de bruxaria, de magia negra e possessões demónicas, tendo sido testemunha dos poderosos efeitos da magia negra.
No compêndio das bruxas, assim podemos ler que «Toda as bruxas juram obediência e sujeição para com o Diabo. Prestam homenagem e vassalagem ao demónio através de cerimónias obscenas, de devassas luxurias e de heréticas perversões. Depois, colocam as mãos sobre um grande livro negro do Diabo que lhes é apresentado. Trata-se do Livro dos Mortos do Diabo, o oposto do Livro da Vida do Deus cristão. Colocando a mao em cima do livro, as bruxas ligam-se ao Diabo através de juramentos blasfemos de nunca retornar á fé cristã, não observar os preceitos cristãos, e não realizar nenhuma obra da Igreja. Não aceitarão mais os divinos preceitos de Deus, mas sim os impuros desejos do Diabo. Jamais frequentarão novamente os sagrados ritos da Igreja, mas sim atenderão apenas aos profanos Sabbat e Missas Negras da magia negra. Estes juramentos nocturnos são prestados á meia-noite, em sabbat satânico.»
Cotton Mather foi um célebre demonologista e o autor de obras como «Wonders of the invisible world», (1693) , um grimório muito influente nos círculos do oculto e da demonologia. Cotton Mather observou na sua obra que as bruxas tendem a organizar-se em grupos semelhantes ás igrejas congregacionais. A essas igrejas satânicas congregacionais, chavam-se «colmeias». A expressão «colmeia de bruxas» foi usada Pierre de Lancre em 1609 quando o jurista eclesiástico e demonologista foi enviado para a zona Basca, a fim de investigar o que ali se passava, pois havia fortes rumores da existência de cultos heréticos a deuses pagãos e demónios. Em sequência dessa investigação, eis que em 1608 descobriu-se a existência de um jovem padre chamado Pierre Bocal, que aos domingos celebrava a missa cristã, e porem durante as restantes noites da semana realizava ritos nos quais usava uma cabeça de bode enquanto oficiava veneração ao demónio, e aos velhos deuses pagãos. Estava assim comprovada a existência de padres satânicos na região, e ficou-se assim a saber que naquela zona eram celebradas Missas Negras, assim como realizados Sabbats Satânicos, e que ali proliferavam bruxas e bruxos. O demonologista Pierre de Lancre testemunhou todas estas realidades, e foi com fundamento nas suas observações e notas pessoais que o demonologista escreveu varias obras influentes, tais como Tableau de L’Constance de Mauvais Anges de 1612, L’Incredulité et Mescréance du Sortilége de 1622, e De Sortilége de 1627. Foi com o demonologista Pierre de Lancre, que se ficou a saber que as bruxas se organizavam em «colmeias».
No compêndio das bruxas, assim podemos igualmente ler que «As bruxas prometem esforçar-se com todos os seus poderes e por todos os meios, para atrair homens e mulheres ao pecado, desviando-os do caminho dos mandamentos cristão. Para isso, celebração trabalhos de magia negra através dos quais farão os prodígios do Diabo manifestarem-se nas vidas de homens e mulheres, infestando-lhes a existência. Também atrairão quantas mais almas que lhes for possível a caírem nas tentações do demónio, seja levando-as a entregar-se aos caminhos da magia negra e da bruxaria ao invés de aos braços da Igreja, seja acolhendo, promovendo e amparando todos os pecados da luxuria, da fornicação, do adultério, dos egoísmos, das vinganças e cobiças humanas. Assim se levam almas á perdição, ganhando-as para o reino do demonio. Quando o Diabo por se ter agradado, escolher uma rara alma entre mil, para a chamar ao oficio de bruxa, também se comprometem as bruxas em tudo fazer para guiar essa alma ao pacto com o diabo, assim angariando mais uma nova bruxa para as hostes do demónio, e do culto satânico. As bruxas serão por isso missionarias do Diabo, conforme freiras e padres são missionários da Igreja. Procurarão atrair mais e mais homens e mulheres aos impios serviços da magia negra, conforme também angariarão novas noviças e noviços para o sacerdócio a Satanás, ou seja, novas bruxos e bruxos.
O Diabo pessoalmente incorporado num homem por possessão demoníaca, ou um representante em sua vez, administrará ás bruxas os profanos sacramentos do baptismo satânico, por oposição ao sagrado baptismo da Igreja. Deverão as bruxas no momento do baptismo abjurar o cristianismo, renunciado aos seus preceitos e anteriores sacramentos recebidos. Depois, devem as bruxas fazer a confirmação deste baptismo.»
Conforme o faziam as bruxas suecas em 1669, essa confirmação era feita através de terríveis juramentos e imprecações.
A bruxa Elisabeth Francis de Chelmsford era uma famosa bruxa por volta dos anos de 1566, e havia sido baptizada pelo Diabo conforme estes mandamentos inscritos no «COMPENDIO DAS BRUXAS». Nessa mesma altura, uma jovem chamada Bellot que estudava na academia de Bourignon, também foi levada ao seu baptismo de bruxa pela própria mae. também um bruxa, realizando-se a cerimonia conforme estes termos. A famosa bruxa Elisabeth Francis de Chelsford, uma das bruxas de Pendle, também assim foi baptizada.
O compêndio das bruxas, relata que «Após confirmação deste juramento feito no baptismo, a bruxa passará a ser instruída nas artes da magia negra, ao passo que recebe do demonio um novo nome de baptismo. Dai em diante, será esse profano nome que identificará a bruxa diante dos demónios e todas as forças do inferno. Será a esse nome que espíritos e entidades responderão quando a bruxa lhes apelar através dos seus bruxedos. Daí que quando um humano normal tenta fazer um rito, por muito que ele esteja tecnicamente bem feito, porem ele não resulta, pois falta-lhe a chave fundamental: o nome da bruxa. Sem esse nome, as forças do mundo dos mortos, do mundo dos espíritos, do além-túmulo, não respondem. Logo, não há resultado algum. Apenas invocando o seu nome de bruxa, é que o apelo é escutado, e essas forças vem ao chamamento do bruxedo.»
A bruxa Isabel Goedie de Aldearne foi baptizada por volta dos anos de 1662, e tanto ela como as demais bruxas da sua colmeia, escreveram o seu novo nome no Livro da Morte do Diabo, com o seu próprio sangue. È com o seu sangue que o pacto é assinado, e é com o seu sangue que o nome da bruxa é inscrito no Livro da Morte do Diabo. Entrando o sangue da noviça em contacto com o pacto e com o Livro Negro, o sangue torna-se sangue de bruxa.
No compêndio das bruxas, observa-se que «Depois de assim estar feito, as bruxas cortam um pedaço da sua própria roupa, e em sinal de homenagem, entregam-na o Diabo que a conservará consigo. Ao faze-lo, a bruxa está a colocar-se inteiramente nas mãos do Diabo, pois sabe que se alguma vez desonrar o seu juramento para como demonio, aquele pedaço de roupa pode imediatamente ser usado num bruxedo que lhe será imediatamente fatal. Seguidamente, o Diabo desenha um círculo no chão, em torno do qual se colocam as noviças, as bruxas e os bruxos, que em voz altar confirmam por juramento todas as supracitadas promessas. Todos fazem o juramento nesse círculo, porque o circulo é o símbolo da Divindade, assim como a Terra é um circulo, e a terra é um supedâneo de Deus, e assim Satanás pretende que o aceitem como Deus e Senhor da Terra. Este é o motivo pelo qual os ídolos represetando Baphomet o retratam sentado em cima da terra, que é um círculo»
Mais assim diz o compêndio das bruxas: «Nestes ritos, as bruxas e bruxos pedem ao Diabo que risque os seus nomes do Livro da Vida de Deus, e os inscreva no seu Livro Negro. Nessa altura é solenemente trazida á sua presença um grande livro negro, o mesmo no qual as bruxas já tinham colocado as suas mãos, e assinado o seu nome com o seu próprio sangue. Agora, o nome delas é ali escrito e confirmado pela própria garra do próprio Diabo.»
Em qualquer colmeia de bruxas, este livro negro era sempre precioso, e guardado com a própria vida, uma vez que neste livro encontravam-se todos os nomes e identidades de bruxos e bruxas. No Livro Negro eram também escritas formulas magicas, bruxedos, e até registos escritos ou cronicas dos feitos históricos de anteriores bruxas. Por vezes, o livro negro servia apenas para conter formulas de magia negra, e cronicas sobre feitos mágicos de outras bruxas históricas. Dentro do livro negro, havia um Livro Vermelho, sendo que era nesse que se encontrava o registo das bruxas e bruxos baptizados.
A bruxa Silvain Nevillon de Orleans, em 1614 celebrou um Sabbat satânico na sua própria casa, onde um tal livro era igualmente usado para oficiar missa negra. A missa negra foi realizada por um homem vestido de negro, que folheava um livro negro enquanto murmurava entredentes encantamentos incompreensíveis. Depois, elevou o cálice da liturgia, um calice de estanho velho e rachado, onde estava algo imundo e fedorento. Em 1647, a bruxa Madelaine Bavent presenciou semelhante missa, onde estava um livro chamado o Livro das Blasfémias, que continha o Canon do Satanismo. Lendo dele, o padre satânico solenemente proferiu as mais hediondas maldiçoes contra a Santa Trindade, o Santo Sacramento do Altar, e outros sacramentos e cerimoniais da Igreja.
Mais assim diz o compêndio das bruxas : «Nesta altura, a bruxa recebe a sua marca do Diabo. È o próprio diabo que lhe imprime a marca no corpo com a sua garra .Após receber a marca do Diabo, a bruxa profere juramentos de abjurar a santa-trindade, e todas as crenças e praticas da Igreja. Em troca, o Diabo promete conceder a sua protecção á bruxa, auxiliar em todos os seus trabalhos de magia negra, e apos a morte garantir que a alma da bruxa vive eternamente aqui na terra, e investida de poder demoníaco. Estando isto solenemente professado, a cada bruxa é designado demónio chamado demónio «Magistellus», ou um espírito demoníaco familiar.» Frequentemente, no decorrer do Sabbat o demonio familiar incorporava por possessão demoníaca num homem, e a bruxa entregava-se-lhe em devassa luxuria. Também ocorreu por vezes o demónio familiar incorporar num animal como um bode negro, e terem depois ocorrido profanas obscenidades.
O espírito demoníaco familiar é um presente do Diabo para a bruxa. O espírito demoníaco familiar acompanhará para sempre a bruxa. Conforme um anjo acompanha um santo, pois um demónio familiar acompanha uma bruxa. E se através dos anjos os santos alcançam a pureza, então pela perversidade dos demónios familiares as bruxas contaminam-se todo o tipo de profana luxuria. O espírito demoníaco familiar é quase sempre um demonio incubbus ou succubus que escolhe a bruxa ou o bruxo. Sendo bruxa tratar-se-á de um demonio incubbus, e sendo bruxo será uma demoniza sucubbus. Henri Boguet ( 1550-1619), notório demonologista e jurisconsulto, afirma no capítulo XII do seu «Discours des Sorciérs» (1602), que na conexão carnal entre o Diabo e as bruxas, o Diabo conheceu todas as bruxas e bruxos, porque ele assume uma forma feminina para agradar aos bruxos, e uma forma masculina para seduzir as bruxas. O próprio Boguet testemunhou um caso em que o demónio apareceu a um homem de nome Pierre Gandillon e George o seu filho, havendo a ambos seduzido e com eles simultaneamente mantido relações pecaminosas, para depois os converter em bruxos. O mesmo sucedeu com uma mãe e filha, a quem um demonio incubbus se insinuou, havendo com elas cometido em simultâneo igual abominação lasciva, depois levando-as a tornarem-se bruxas.
Para alem do espírito demoníaco familiar, o diabo poderá depois conceder-lhe mais presentes, como um caldeirão, ou uma vara magica. Poderá até conceder mais presentes, como foi o caso da bruxa Jane Wier, irmã do bruxo Thomas Weir. O Major Thomas Weir ( 1600-70), foi um militar e religioso que acabou por se tornar famoso pela pratica de magia diabólica ou magia negra. Thomas Wier. Thomas Wier, ainda na juventude, ele e a irmã Jane Weir haviam sido procurados pelo Diabo, que se havia insinuado neles com todas as formas de tentações, até que ambos cederam e fizeram Pacto com o Demonio, tornando-se assim bruxos. Jane Weir havia recebido um presente do Diabo na forma de um espírito demoníaco familiar que a acompanhou dai em diante. Jane Weir recebeu também uma roda de fiar que se dizia trabalhar sozinha durante a noite. Com isso a bruxa fez muito dinheiro, pois tinha uma capacidade de tecelagem muito maior que todas as outras mulheres da localidade. Mais que isso, alguns dos fios que roda de fiar produziam, era usados em amarrações com espantoso sucesso, pois essas amarrações eram amarradas com um fio que era obra do próprio demónio. E amarrações dessas, ninguém escapa. Muitas amarrações foram assim feitas com resultados lendários. Com essas célebres amarrações, também a bruxa Jane fez muito dinheiro, pois secretamente chegavam-lhe incontáveis pedidos para a amarração de homens em todo o tipo de circunstâncias. Depois de já serem bruxo e bruxa, os irmãos Thomas e Jane foram tentados pelo Diabo ao pecado do incesto, a que se entregaram sem restrições durante a celebração de Sabbats Satânicos, para grande deleite do demónio, que se sacia nos festins de pecado e lascívia. O bruxo Thomas usou também dos seus bruxedos para ter as mulheres que desejava. Uma delas foi a sua própria empregada, cometendo com ela o pecado do adultério debaixo do tecto do seu próprio lar. Outra das mulheres embruxadas foi a sua própria jovem enteada, consumindo-se assim outro inenarrável pecado. Os pecados amontoaram-se, para grande deleite do Diabo, que chegou mesmo a incorporar em animais, e através deles possuir tanto a bruxa Jane, como as mulheres embruxadas por Thomas. Se Jane tinha recebido um espírito demoníaco familiar e uma roca de fiar como presente do Diabo, já Thomas tinha recebido uma vara mágica na forma de um bastão ou bengala com a qual o bruxo andava a toda a hora, e jamais dela se separava. Era com essa vara que o bruxo – recitando os seus encantamentos em Latim – , invocava aos espíritos de trevas e as forças do inferno, para encantar e embruxar qualquer mulher que desejasse. Dessa forma, o bruxo chegou a ter fama de conseguir possuir para satisfação dos seus apetites de luxuria, qualquer mulher que desejasse. A fama do bruxo Thomas começou a espalhar-se, e consta que secretamente, muitos pedidos o bruxo recebeu para lançar amarrações de luxuria sobre várias mulheres, com a sua vara do Diabo. Ainda muito tempo depois de terem falecido, a fama dos bruxos Thomas e Jane Weir permanecia lendária, e foi registada numa publicação de Robert Chambers, «Traditions of Edinburg» (1825).
Estes e outros ensinamentos contidos no celebre «Compêndio das Bruxas», demonstram a realidade do fenómeno da magia negra, das bruxas e bruxos, e de como as negras artes satânicas tem gerado trabalhos de magia negra que causaram efeitos tais, que se tornaram lendários. Isso permanece verdade hoje, como o foi há seculos, e como sempre foi, e como sempre será. Os efeitos dos trabalhos de magia negra, quando feitos por quem tem um verdadeiro vínculo com o reino do espirito, são factos e realidades comprovadas.
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