Magia negra, a vassoura e o unguento do Diabo

Magia negra, a vassoura e unguento do Diabo

Henri Boguet ( 1550-1619), foi um notório demonologista Francês que em 1602 publicou a obra «Discours Exécrable des Sorciers». Num dos seus célebres casos investigados em 1598, Boguet relatou como um bruxo que tinha viajado para um Sabbat havia sido encontrado numa sexta-feira á noite, deitado na sua cama, rígido como um cadáver, e aparentemente morto. Ao lado da cama, estava uma vassoura. Assim esteve o homem feito defunto naquela cama, e com a vassoura ao lado, quando passadas três horas voltou á vida, como quem tinha acordado de um sono. Na verdade, durante essas três horas em que o seu corpo estava aparentemente morto, a alma do bruxo tinha abandonado o seu corpo, e tinha ido visitar um Sabbat satânico. Foi assim que se descobriu sobre o lendário voar das bruxas, e como realmente as bruxas voam.

As bruxas são inúmeras vezes associadas á vassoura, e em voarem em vassouras para irem frequentar os seus lendários Sabbat satânicos. De acordo com o notório Errores Gazariorum publicado em 1450, as jovens bruxas noviças ou iniciantes recebiam um bastão ungido num líquido viscoso, como parte do seu treino para depois, uma vez sendo bruxas, usarem uma vassoura. Um dos primeiros relatos historicamente documentados sobre bruxas usarem vassouras para voar, ocorreu em 1453, quando o bruxo Guillaume Edelin afirmou abertamente ter usado desse meio para visitar um Sabbat. Porem, o brixo fez também saber que o Diabo exigia a presença física de bruxas e bruxos nos Sabbat, sendo que apenas se permitia aquele meio quando bruxo ou bruxa estivessem incapacitados de frequentar os ritos, fosse por doença, ou para não despertarem suspeitas sobre a sua condição de bruxas. Dizem os vários grimórios que este voo com a vassoura era alcançado por um certo procedimento: a bruxa deveria desnudar-se, e ungir todo o corpo com um unguento de magia negra, para depois usando da vassoura dizer o encantamento «Vá, em nome do Diabo, vá!». Na verdade, muito poucas foram as bruxas que alguma vez afirmaram ter voado, ou usado deste procedimento oculto. Para a maioria do publico leigo nas artes da magia negra, aquilo que sempre captou a atenção foi a vassoura como um instrumento de voo, quando na verdade aquilo que permitiria á bruxa voar não era a vassoura, mas sim o unguento do Diabo, uma espécie de graxa ou liquido viscoso que o Demónio oferecia á bruxa. Diz o grimório Demonolatreiae ( 1595), que o Diabo uma vez recrutando uma bruxa, «não demora tempo a fornecer-lhe instrumentos e instrução na pratica da magia negra». E para que o negócio das bruxas não se atrase, o demónio logo lhes fornece um uguento mágico, ou uma pomada mágica. Era com esse unguento que o voo da bruxa se realizava, e não com a vassoura. Tanto assim é, que para alem da vassoura, há relatos de como as bruxas visitavam os Sabbat satânicos voando também num bode, num cavalo, ou noutro animal. Ou seja: o mistério do voo não estava no objecto do voo, mas sim na bruxa. E na realidade, a bruxa não voava em corpo de carne-e-osso, mas sim no seu corpo espiritual, ou a sua alma. Já por isso o célebre Malleus maleficarum (1486), afirma com clareza que existem corpos materiais, ( os nossos corpos de carne e osso), e corpos espirituais, ( a nossa alma), e que os corpos espirituais influenciam os corpos materiais. Pois a bruxa viaja espiritualmente, e não carnalmente, ou seja, o seu corpo espiritual ou alma pode abandonar temporariamente o seu corpo carnal – como se de uma morte temporária se tratasse – , e viajar para outros locais desta realidade, ou até de realidades paralelas, depois regressando ao seu corpo carnal em segurança. A aquilo que permitia á bruxa esse voar, não era a vassoura, mas sim o unguento do Diabo.

A vassoura, contrariamente ao que o publico em geral pensa, é um símbolo usado em ritos de limpeza e purificação. Jean Bodin ( 1520-96), foi um jurista e filosofo francês, autor da notória obra «De lá Demonomanie des Sorcieres» de 1580 . As obras destes demonologistas vieram lançar luz sobre o poder da magia negra, e dos trabalhos de magia negra. Na sua obra, Bodin descreve com as bruxas usam vassouras, mas essencialmente em rituais de limpeza e expurga espiritual, quando dançando e cantando em volta de uma fogueira ou caldeirao, empunham uma vassoura. As bruxas italianas eram famosas por este ritual, a que se chamava «La Volta». Por a vassoura ser um instrumento de limpeza e protecção espiritual, é que era comum que a bruxa preferisse ter uma vassoura perto de si quando realizava as suas artes de voar com a sua alma, uma vez que voar com a alma sem estar ligada ao corpo, é uma experiência igual á da morte. E para evitar ser atacada por espectros ou anjos da morte que a confundissem com uma alma penada, a bruxa mantinha a vassoura perto de si como forma de limpeza e protecção espiritual, a fim de voar em segurança por esse reino, que é um reino de almas penadas. Porem, o unguento que o Diabo oferecia á bruxa, também servia para o próprio prazer do próprio Diabo, pois que induzia a bruxa a um estado de êxtase quando o demónio a desejava copular luxuriosamente.

Lewis Spence  (1874 – 1955), notório ocultista escocês e autor da «Enciclopaedia of Occultism» ( 1920), faz notar na sua obra que em 1428, a Itália da Idade Media teve uma das suas mais famosas bruxas da época, a bruxa Matteuccia. A bruxa residia nos arredores de Perugia, perto de Umbria, no centro de Itália. A bruxa era conhecida por usar uma unção esfregada pelo seu corpo nu, que invocava irresistivelmente o Diabo. A fórmula da unção havia sido escrita há muito por uma velha bruxa, e foi-lhe dada pelo próprio Demonio. Usando-se da unção no corpo de uma bruxa, a sua fragância atraia o Demonio de forma quase imediata, vindo ele sempre com desejo ardente de possuir a bruxa, para depois lhe conceder todos os favores que lhe fossem pedidos. A formula era feita a partir de alguns ingredientes conhecidos, e outros desconhecidos. Entre aqueles que se conheciam, estava a gordura de defuntos que não houvessem sido baptizados, cascos de mula-fêmea, penas de certas aves, ossos de defuntos pagãos da antiguidade, e outros mais ingredientes, tudo ardido e reduzido a um pó, que depois era usado para fabricar o unguento. A fórmula é secreta, e curiosamente composta de elementos perigosamente venenosos e tóxicos, como cicuta, acônito e beladona. A bruxa Matteuccia celebrava os seus sabbat satânicos junto da arvore de nogueira de Belavento, onde ali se reuniam bruxas e demónios para prestarem culto a Satanás. Nesses sabats, juravam fidelidade a Satanás, entregavam-se a obscenos festins de devassa luxuria com demónios, prometiam espalhar a obra da magia negra pelo mundo, e produziam unguentos mágicos para serem usados em trabalhos de magia negra, alguns feitos de ingredientes como gordura de abutres, pó de morcego, e sangue de crias de tenra idade. A bruxa Matteuccia visitava a árvore de nogueira ás segundas, sábados e domingos, que foi quando o Demonio lhe ordenou que ali fosse. Porem, noutros casos é sabido que o Diabo indicava que os Sabbat deviam ser celebrados ás quintas, sábados e domingos. Nicolas Remy, ( 1530-1616), na sua obra Demonolatreiae ( 1595), descreve que nos Sabbats, Satanás determinou que as bruxas deveriam «conspurcar-se aos santos domingos entregando-se a demónios incubus e sucubus, contaminar-se com o pecado da sodomia ás quintas-feiras, e ao sábado cometerem a herética prostituição com a abominação da bestialidade».

Nicolas Remy( 1530 – 1612), foi um demonologista Francês que presenciou pessoalmente vários casos verídicos de bruxas, bruxaria e trabalhos de magia negra.  Com as conclusões que retirou das suas experiências e observações, Nicolas Remy escreveu o famoso grimório «Demonolatreiae», publicado em 1595. Na sua obra Demonolatreiae ( Capitulo II), Remy faz nota que para além dos pós mágicos, as bruxas tem outros meios de propagar as suas bruxarias, e contagiar as suas vitimas através dos seus trabalhos de magia negra. Um desses meios, é o uso de unguentos de magia negra. Certas vezes, conta o famosos demonologista Remy, as bruxas untam-se com a pomada de bruxaria, e depois com as mãos manchadas pelo unguento do demónio, tocam na roupa da vitima que desejam embruxar. Assim é muito difícil de detectar quando elas estão contagiar alguém com uma magia negra, pois podem faze-lo até com a aparência de um gesto de bondade, ou de carinho, ou de preocupação. Diz o grimório «Demonolatreiae», que «não obstante, é um veneno instantâneo». Basta a bruxa ungida com a pomada demoníaca tocar na roupa da vitima, e a infecção de bruxaria contagia a vitima como uma praga invisível, e sem retrocesso. Afirmava por isto o célebre grimório de magia negra, que o simples toque da bruxa é fatal para aqueles que ela desejar atingir, e que quanto a infecção daquela praga infestar a sua vitima, irá depois contaminar até as pessoas que a rodeia, assim acabando por ferir quem mais essa vitima ama. Na vila Lorena da Alemanha, por volta dos anos 1589 haviam duas célebres bruxas que produziam estes fortes unguentos para os seus trabalhos de magia negra. Tratava-se da bruxa Marie Alberte, assim como da bruxa Catharina Praevotte, que em sua cada conservavam potes com uma pomada amarela e branca, brilhante. Também na mesma área geográfica, a bruxa Otillia Kelvers e a bruxa Anguel Yzarts produziam os mesmos temíveis unguentos, com os quais celebravam trabalhos de magia negra que ofereciam efeitos espantosos, especialmente em casos amorosos, de amarrações de magia negra. Uma coisa comum a todos os ungentos que estas bruxas produziam, é que quando são queimados, brilham, ou soltam faíscas brilhantes como pequenas estrelas.

Sobre esses unguentos mágicos ou pomadas mágicas, sabem-se alguns aspectos. Tratava-se de uma pasta ou liquido viscoso preparado conforme uma fórmula secreta na qual se faz uso de ingredientes como enxofre, ossos moídos de defunto que faleceu sem ser baptizado, ou sem receber os ritos fúnebres, ou sofreu uma morte condenatória á sua alma, plantas negras ocultas, belladona, sangue de morcego coagulado, raiz de heléboro, escamas de serpente reduzidas a pó, acônito, e muitos outros ingredientes de formulas de magia negra que são conservados em segredo há séculos. A fórmula é secreta, e deve ser lidada com cuidado, pois é composta de elementos perigosamente venenosos e tóxicos, como mandrágora,  heléboro, Amanita muscaria, papoila, cicuta, acônito e belladona.

Alguns dos segredos destas ancestrais fórmulas, são de certa forma referidos e mencionados na obra Metamerphoses de Apulileu, autor romano do século II a.C. Também Silvestre Prieirias ( 1456-1527), foi um teólogo dominicano que no século XVI também escreveu sobre alguns aspectos dos ingredientes usados em unguentos das bruxas. Esta fórmula de pó negro de magia negra é um segredo de bruxaria bem conservado. Quem usou desta formula com grande sucesso na Idade Média, foram freiras que secretamente se entregaram á bruxaria e a Satanás através de Pacto demoníaco.  Essas freiras passaram mesmo a ser chamadas de freiras satânicas, pois ter-se-iam deixado corromper e subverter pela influência do Diabo. Neste caso, estas freiras foram abordadas por um demónio feminino que tem especial gosto em seduzir e possuir freiras. Os factos ocorreram num convento na península ibérica. Dizem as lendas que foi o próprio demónio que lhes revelou a fórmula deste pó de magia negra através de sonhos satânicamente induzidos pelo Diabo.

O monge beneditino Regino de Prum ( 842 – 915), escreveu no seu De Ecclesiasticis Disciplinis que ao diabo agrada-lhe que as bruxas esfreguem os seus corpos com um unguento de bruxas. Por vezes as bruxas mais novas ficam receosas do seu primeiro encontro de luxuria carnal com o Diabo quando incorporado em forma de homem, e a unção do unguento entorpece-lhes os sentidos. O lubrificante viscoso proporciona voluptuosas sensações ás bruxas, pelo que depois se entregavam ao Diabo plenamente ardentes e apaixonadas, caídas em fantásticos delírios de estarem a voar, e cavalgando nas luxurias do Diabo. Após usarem do unguento do Diabo da primeira vez e no primeiro encontro lascivo com o Diabo, o unguento é de tal forma agradável e extasiante, que as bruxas passam a usa-lo dai em diante, Há quem diga que a formula do unguento do Diabo é altamente viciante. O estado em que bruxa fica com este unguento, também lhe permite que o seu espírito se liberte do seu corpo, e que viaje para onde deseja, depois regressando em segurança ao corpo. Quando ocasionalmente e por algum impedimento, as bruxas não podiam ir frequentar o Sabbat em carne-e-osso de forma a não levantar suspeitas sobre as suas actividades satânicas, elas faziam-no usando deste unguento, cuja a formula era conhecida apelas pelo Demónio, e facultada ás suas bruxas. Dessa forma a bruxa visitava o Sabbat em espirito, disfrutando dele, e depois regressando em segurança ao seu corpo. A fórmula deste liquido viscoso é secreta, mas curiosamente composta de elementos perigosamente venenosos e tóxicos, como cicuta, acônito e beladona.

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