Magia negra e a marca da bruxa
Henry Hallywell ( 1640-1703),na sua obra «Melampronoea» de 1681, menciona a marca do Diabo ou a marca da bruxa, descrevendo-a como uma fonte de energias através da qual os demónios se vem alimentar a este mundo, para neste mundo persistirem a empreender nas suas actividades demoníacas, dessa forma permitindo á bruxas celebrarem os mais fortes trabalhos de magia negra. Se bem que os demónios podem fazer isso recorrendo-se tempos a tempos de animais, porem eles preferem saciar-se na privilegiada fonte – para eles, deliciosa – que é uma bruxa. Assim, o demónio alimentar-se-ia das energias vitais da bruxa, de forma a ter forças para permanecer neste mundo e executar os seus desígnios. Por seu lado, a bruxa conservar-se-ia neste mundo através da possessão do espírito demoníaco, que estando dentro dela a tornava mais resiliente e resistente nesta vida terrena, ao passo que lhe concede os dons da bruxaria. Tratava-se de uma simbiose explicada pelo autor. A marca é sempre um local totalmente indolor no corpo da bruxa, pois o acto do demónio extrair energia vital é doloroso, pelo que o local pelo qual o faz tem de ser um sitio no qual a bruxa não sinta qualquer dor, a fim que o processo decorra tranquilamente, e sem causar suspeitas a outrem, nem desconforto á própria bruxa. Por isso, o teste mais simples para encontrar a marca, era usar-se de uma simples agulha, procurando por sinais no corpo que sendo trespassados, sangrassem sem causar qualquer dor, ou fossem perpassados de forma totalmente indolor. Por vezes, esta marca assumia uma forma muito semelhante a um pequeno mamilo. Sabe-se de casos documentados de bruxas que, de facto, tinham esse pequeno mamilo insensível oculto no seu corpo.
Á marca do diabo, ou a marca da bruxa, os célebres demonologistas como Nicolas Remy ( 1530 – 1612), chamavam a Stigmata Diaboli.
Foi o caso que se verificou em 1621, da celebre bruxa de Edmontin, Elisabeth Sawyer, assim como da ainda mais famosa bruxa de Salem, Bridget Bishop (1632-1692). Houve porem quem distinguisse entre a «marca da bruxa», e a chamada «marca do Diabo». Havia quem afirmasse que a marca da bruxa era essa espécie de «mamilo» através do qual o demónio se alimentava da bruxa, e porem a «marca do diabo» era antes uma outra marca que visava identificara bruxa enquanto pertença do Diabo, da mesma forma que o gado marcado com um ferro, ou até como se marcavam os escravos da antiguidade para identificar o seu proprietário. Ao aceitar o pacto demoníaco, a bruxa aceitava incondicionalmente receber tanto uma marca, como a outra. Esta questão foi levantada em 1662, aquando do caso da celebre bruxa Amy Duny, uma das bruxas de são Edmundo, em cujo o corpo se denotavam dois tipos de marcas diferentes: a típica marca da bruxa ou mamilo oculto, e a marca do diabo. Porem, ambas as marcas tem em comum que são local que podem ser tocados ou trespassados sem qualquer dor para a bruxa.
O sangue da própria bruxa assinando um contrato demoníaco através de Pacto com o demonio, bem como a relação carnal com o Diabo através do qual a liturgia infernal é praticada para outorgar o pacto infernal, são os meios descritos e através dos quais se jurava obediência a Satanás, ao passo que se renegava Deus e em suma se entregava a alma ao demónio para adquirir poderes sobrenaturais de bruxaria.
Aquela pessoa que se entregava ao demónio, era marcada pelo Diabo. A esse sinal, chamava-se a «marca da bruxa», ou a «marca de Caim». Essa marca corporal confirma que a bruxa é na verdade uma bruxa. A marca não pode ser um sinal de nascença, mas sim algo adquirido no momento em que o Diabo assume poder sobre essa pessoa, ou escolheu essa pessoa para ser seu servo e sacerdote. A «marca» é deixada pelo demónio no corpo da bruxa como forma de assinalar a obediência dessa pessoa para com o Diabo.
Nicolas Remy( 1530 – 1612), foi um demonologista Francês que presenciou pessoalmente vários casos verídicos de bruxas, bruxaria e trabalhos de magia negra. Com as conclusões que retirou das suas experiências e observações, Nicolas Remy escreveu a obra «Demonolatreiae», publicado em 1595. Na sua obra Demonolatreiae ( Capitulo V), Remy faz nota de como na antiguidade era conhecida a crueldade dos senhores em relação aos seus escravos, especialmente o acto de marcar-lhes o corpo com marcas cravadas e ferro ardente, tal conforme se faz ao gado, muitas das vezes para que em caso de fuga, esses escravos pudessem ser facilmente reconhecidos e recapturados. Relembra assim o demonologista Remy, que o Diabo faz o mesmo ás suas bruxas, marcando e selando aqueles que reivindicou como seus, marcando-os numa parte do corpo, conforme se fazia aos escravos da antiguidade, e que o Demónios o faz com as suas garras. Entre os anos de 1684 e 1587, houveram três famosas bruxas que não hesitavam em exibir orgulhosamente a sua marca do Diabo ou marca da bruxa. Tratava-se da bruxa Alexée Belheure, da bruxa Nicolée Moréle, e a bruxa Jeanne Gerardine, todas elas servas de Satanás, prestadoras de culto ao Diabo, e praticantes dos mais fortes e temidos trabalhos de magia negra. Todas elas afirmavam que receberam a marca do Diabo no exacto momento em que renunciaram á sua fé cristã, e aceitaram o Diabo como seu Senhor. As marcas do Diabo ou marcas da bruxa costuma ser locais imunes á dor, conseguindo-se perpassar aquele pedaço de carne sem que a bruxa sinta qualquer dor, e sem que dali brote nem uma única gota de sangue. No ano de 1588, uma bela bruxa de nome Isabelle Pardee exibiu a sua marca do Diabo, perfurando-a com uma agulha, sem sentir qualquer dor, e sem que dali se derramasse nem uma gota de sangue. Afirma o demonologista Remy que várias bruxas sempre afirmaram que o Diabo é frio como um cadáver, e o seu toque é gélido com a morte. Parece por isso que onde o Diabo marca a bruxa com a sua garra, fá-lo com o frio típico dos defuntos, e é como se aquele pedaço de carne ficasse morto. È um selo do mundo dos mortos que é colocado na carne da bruxa, pois que daí em diante grande será o seu vinculo com o mundo dos espíritos, com o Hades, com o mundo do Além-Túmulo.
Um dos casos em que se pode observar a forma como a marca da bruxa é obtida, foi o caso da notória bruxa Isobel Gowdie. Por volta do ano de 1662, uma lindíssima bruxa ruiva de nome Isobel Gowdie era famosa na Escócia. A bruxa Isobel Gowdie habitava na localidade de Lochloy, em Moreyshire. A bruxa iniciou-se muito jovem nas artes da magia negra, havendo sido abordada pelo Diabo aos quinze anos, e desde então frequentado Sabbat. Foi porem anos depois, já em idade adulta, que os seus trabalhos de magia negra a tornaram famosa. Em 1647, a A bruxa Isobel Gowdie celebrou pacto com o Diabo numa Igreja em Auldearne. O Diabo assim lho tinha pedido, para que maior fosse a afronta da heresia para com a Igreja. Foi naquele local santo lugar que Gowdie renunciou á fé cristã, e foi baptizada pelo próprio diabo que a picando, usou das gotas do própria sangue para a baptizar. O sangue da iniciada uma vez entrando em contacto com o pacto demoníaco, torna-se sangue de bruxa, pois fica impregnado de essência demoníaca. A bruxa Gowdie recebeu então um novo nome, que era o seu nome de bruxa. O nome era Janet, e seria esse o nome inscrito no Livro da Morte do Diabo, havendo-se assim riscado o seu antigo nome cristão do Livro da Vida de Deus. Embora neste mundo ela respondesse pelo nome cristão, porem para o Diabo e todos os demónios e espíritos do inferno, o seu verdadeiro nome era Janet, e era por esse nome que os espíritos de trevas respondiam ao seu apelo. Assim sucede com todas as bruxas, conforme sucedeu com A bruxa Isobel Gowdie. No local onde o diabo a tinha picado para extrair o sangue usado no seu próprio baptizado e pacto, ficou uma marca, a marca da bruxa ou marca do diabo. No final, o próprio Diabo incorporado num homem através de possessão demónica, leu palavras blasfemas do seu Livro Negro no púlpito da Igreja, assim culminando-se a perversa heresia realizada naquele templo. Na noite seguinte, a bruxa Isobel Gowdie foi ao encontro do Diabo, que teve relações lascivas com ela e outras doze bruxas, adoradoras de Satanás. O impuro festim de obscenidades e luxuria celebrou-se com agrado do demonio, havendo depois a bruxa Gowdie sacrificado duas criaturas animais de tenra idade em nome de Satanás, havendo o seu sangue depois sido usado em ritos satânicos, assim como em trabalhos de magia negra.
A «Marca» é criada de diversas formas: ou pelas garras do Diabo ao passar pela carne do seu servo, ou pela língua do Diabo que tocando o individuo, lhe deixa a marca demoníaca. A «marca» pode-se manifestar em diversas formas: Uma verruga, uma cicatriz, um sinal, e especialmente um pedaço de pele totalmente insensível.
Porem, as teses ocultistas mais actuais, tendem a identificar esta «marca do Diabo» não como um sinal físico presente no corpo da bruxa, mas antes como um «sinal» marcado na alma da bruxa, ou seja: o seu «nome espiritual», o nome com que bruxa viverá depois do pacto com o Diabo, e com o qual fará as suas bruxarias.
Em Agosto de 1629, o chanceler do Bispo de Wurzburg na Alemanha, escrevia numa missiva pessoal escrita a um amigo, que havia testemunhado eventos satânicos na comunidade de Frau-Rengburg. Ali haviam sido celebradas várias missas negras, onde o Diabo se havia manifestado pessoalmente através de possessão demoníaca de um padre satânico, administrando á sua congregação de bruxas uma liturgia profana na qual rodelas de nabos eram servidos ao invés de hóstias sagradas, e varias obscenidades lascivas eram praticadas diante de um altar da Igreja. Nessas missas várias bruxas iniciadas eram baptizadas, pedindo de livre vontade que os seus nomes fossem riscados do Livro da Vida de Deus, e fossem inscritos no Livro da Morte do Diabo. Dessa forma, as bruxas recebiam o seu «nome do Diabo», ou o «nome de bruxas», que é o seu «nome espiritual»
Há por isso teses ocultistas que defendem que o «nome espiritual» é o nome que o demónio concede a uma bruxa quando ela outorga o seu pacto infernal, e essa é a «marca» que identificará para sempre essa pessoa diante do Diabo, da mesma forma que o «nome de baptismo» Cristão identifica uma pessoa diante de Deus. Assim, se o «nome de Baptismo» identifica uma pessoa diante de Deus, o «nome demoníaco» é o «sinal» por via do qual uma pessoa se identifica perante o demónio. Ao ser baptizado por Deus, recebe-se um nome, e ao ser «baptizado» pelo Diabo, recebe-se outro.
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