Magia negra e o grimório Nuctemeron
Quanto á bruxaria, o célebre Malleus Maleficarum ( 1486), dos demonologistas Jacob Sprenger ( 1438 – 1495), e Heinrich Kramer, ( 1430 – 1505), denota muito severamente na sua Questão VIII, que afirmar que a bruxaria não existe é uma heresia, pois que se a própria Bíblia que é Palavra de Deus dá testemunho confirmando que ela existe… logo, nega-la é negar a Palavra de Deus, e questiona-la é questionar a Sabedoria do Criador.
Na célebre obra «Compendium Maleficarum» , ou o «Compêndio das Bruxas» de 1608, do notório padre e demonologista Italiano Francesco-Maria Guazo (n. 1570), assim podemos ler que «Toda as bruxas juram obediência e sujeição para com o Diabo. Prestam homenagem e vassalagem ao demónio através de cerimónias obscenas, de devassas luxurias e de heréticas perversões. Depois, colocam as mãos sobre um grande livro negro do Diabo que lhes é apresentado. Trata-se do Livro dos Mortos do Diabo, o oposto do Livro da Vida do Deus cristão. Colocando a mão em cima do livro, as bruxas ligam-se ao Diabo através de juramentos blasfemos de nunca retornar á fé cristã, não observar os preceitos cristãos, e não realizar nenhuma obra da Igreja. Não aceitarão mais os divinos preceitos de Deus, mas sim os impuros desejos do Diabo. Jamais frequentarão novamente os sagrados ritos da Igreja, mas sim atenderão apenas aos profanos Sabbat e Missas Negras da magia negra. Estes juramentos nocturnos são prestados á meia-noite, em sabbat satânico.»
No Compêndio das Bruxas, assim podemos igualmente ler que «As bruxas prometem esforçar-se com todos os seus poderes e por todos os meios, para atrair homens e mulheres ao pecado, desviando-os do caminho dos mandamentos cristão. Para isso, celebração trabalhos de magia negra através dos quais farão os prodígios do Diabo manifestarem-se nas vidas de homens e mulheres, infestando-lhes a existência. Também atrairão quantas mais almas que lhes for possível a caírem nas tentações do demónio, seja levando-as a entregar-se aos caminhos da magia negra e da bruxaria ao invés de aos braços da Igreja, seja acolhendo, promovendo e amparando todos os pecados da luxuria, da fornicação, do adultério, dos egoísmos, das vinganças e cobiças humanas. Assim se levam almas á perdição, ganhando-as para o reino do demónio. Quando o Diabo por se ter agradado, escolher uma rara alma entre mil, para a chamar ao oficio de bruxa, também se comprometem as bruxas em tudo fazer para guiar essa alma ao pacto com o diabo, assim angariando mais uma nova bruxa para as hostes do demónio, e do culto satânico. As bruxas serão por isso missionarias do Diabo, conforme freiras e padres são missionários da Igreja. Procurarão atrair mais e mais homens e mulheres aos impios serviços da magia negra, conforme também angariarão novas noviças e noviços para o sacerdócio a Satanás, ou seja, novas bruxos e bruxos.
O Diabo pessoalmente incorporado num homem por possessão demoníaca, ou um representante em sua vez, administrará ás bruxas os profanos sacramentos do baptismo satânico, por oposição ao sagrado baptismo da Igreja. Deverão as bruxas no momento do baptismo abjurar o cristianismo, renunciado aos seus preceitos e anteriores sacramentos recebidos. Depois, devem as bruxas fazer a confirmação deste baptismo.»
Diz o Compêndio das Bruxas que «Após confirmação deste juramento feito no baptismo, a bruxa passará a ser instruída nas artes da magia negra, ao passo que recebe do demónio um novo nome de baptismo. Dai em diante, será esse profano nome que identificará a bruxa diante dos demónios e todas as forças do inferno. Será a esse nome que espíritos e entidades responderão quando a bruxa lhes apelar através dos seus bruxedos. Daí que quando um humano normal tenta fazer um rito, por muito que ele esteja tecnicamente bem feito, porem ele não resulta, pois falta-lhe a chave fundamental: o nome da bruxa. Sem esse nome, as forças do mundo dos mortos, do mundo dos espíritos, do além-túmulo, não respondem. Logo, não há resultado algum. Apenas invocando o seu nome de bruxa, é que o apelo é escutado, e essas forças vem ao chamamento do bruxedo.»
Pode-se ler no Compêndio das Bruxas que «Depois de assim estar feito, as bruxas cortam um pedaço da sua própria roupa, e em sinal de homenagem, entregam-na o Diabo que a conservará consigo. Ao fazê-lo, a bruxa está a colocar-se inteiramente nas mãos do Diabo, pois sabe que se alguma vez desonrar o seu juramento para como demónio, aquele pedaço de roupa pode imediatamente ser usado num bruxedo que lhe será imediatamente fatal. Seguidamente, o Diabo desenha um círculo no chão, em torno do qual se colocam as noviças, as bruxas e os bruxos, que em voz altar confirmam por juramento todas as supracitadas promessas. Todos fazem o juramento nesse círculo, porque o circulo é o símbolo da Divindade, assim como a Terra é um circulo, e a terra é um supedâneo de Deus, e assim Satanás pretende que o aceitem como Deus e Senhor da Terra. Este é o motivo pelo qual os ídolos representando Baphomet o retratam sentado em cima da terra, que é um círculo»
Mais assim diz o compêndio das bruxas «Nestes ritos, as bruxas e bruxos pedem ao Diabo que risque os seus nomes do Livro da Vida de Deus, e os inscreva no seu Livro Negro. Nessa altura é solenemente trazida á sua presença um grande livro negro, o mesmo no qual as bruxas já tinham colocado as suas mãos, e assinado o seu nome com o seu próprio sangue. Agora, o nome delas é ali escrito e confirmado pela própria garra do próprio Diabo.»
Mais assim diz o Compêndio das Bruxas «Nesta altura, a bruxa recebe a sua marca do Diabo. È o próprio diabo que lhe imprime a marca no corpo com a sua garra. Após receber a marca do Diabo, a bruxa profere juramentos de abjurar a santa-trindade, e todas as crenças e praticas da Igreja. Em troca, o Diabo promete conceder a sua protecção á bruxa, auxiliar em todos os seus trabalhos de magia negra, e após a morte garantir que a alma da bruxa vive eternamente aqui na terra, e investida de poder demoníaco. Estando isto solenemente professado, a cada bruxa é designado demónio chamado demónio «Magistellus», ou um espírito demoníaco familiar.» Frequentemente, no decorrer do Sabbat o demónio familiar incorporava por possessão demoníaca num homem, e a bruxa entregava-se-lhe em devassa luxuria. Também ocorreu por vezes o demónio familiar incorporar num animal como um bode negro, e terem depois ocorrido profanas obscenidades.
Foi seguindo estes preceitos que Marie Dalabert se converteu em bruxa, e depois ganhou a sua alcunha de «o gato», que na verdade não era senão o seu nome de baptismo satânico.
A alcunha de «o gato», nasceu a partir do momento em que cada vítima dos seus bruxedos, antes de começar a sofrer os efeitos da magia negra, via sempre um gato a rondar-lhe a casa, ou a cruzar-se insistentemente no seu caminho. O gato na verdade era o espirito demoníaco familiar da bruxa, o diabo vermelho que havia dançado com Marie Dalabert no seu primeiro Sabbat, e que incorporando num gato, levava o bruxedo a quem a bruxa o destinasse. Certa vez, a encomendaram á bruxa Marie Dalabert uma amarração dirigida a uma jovem recém-casada. O jovem era a filha do notário da vila, o mestre Mathieu Tappie, e fora objecto de cobiça de um certo cavalheiro, porem acabando por casar-se com outrem, e dele tido um bebé. Não desistindo da sua paixão, o cavalheiro queria mesmo assim possuir a jovem recém-desposada, e para isso solicitou os serviços da bruxa. A bruxa Marie Dalabert preparou o trabalho de magia negra, e depois soprou no ouvido do seu gato o nome da mulher a quem se destinava o bruxedo. Nos dias seguintes a jovem recém-casada e mãe de um bebé nascido há meses, começou a cruzar-se recorrentemente com o gato, até ao ponto de chegar a casa e encontrar o gato junto do berço do bebé, apesar de todas as portas e janelas da casa estarem trancadas. O gato olhava fixamente para a criança, e depois esfumou-se no ar como uma miragem. Dai em diante, a jovem recém-casada era todas as noites assombrada por temíveis visões, espectros e aparições, num castigo de tormentos que não cessava. Mesmo assim, a jovem recusava-se a ceder ás tentações de ir procurar pelo antigo namorado, e permanecia firme na sua vontade de se manter fiel ao esposo. Foi então que o seu bebé adoeceu gravemente, e para sua grande aflição, nem os médicos conseguiam encontrar explicação para o mal que consumia a criança. Porem, tendo a jovem esposa ido entregar-se ao cavalheiro que a mandou embruxar, imediatamente todos os padecimentos desapareceram e esfumaram-se tão misteriosamente quanto tinham aparecido.
O grimório Nuctemeron
Sendo os efeitos da bruxaria alcançados através da invocação de demónios, e sendo as bruxas servas e sacerdotisas do Diabo, então o estudo dos demónios, das suas hierarquias e das suas invocações foi desde sempre um dos pilares da sabedoria que as bruxas e bruxos aprendiam nos seus grimórios negros. E um desses famosos grimórios, era o Nuctemeron.
O Nuctemeron é a obra esotérica de Apolónio de Tiana, ( século I a.C), um homem a quem se atribuem vários milagres, inclusive a ressurreição de mortos, e a transfiguração. Por a sua vida, obra e milagres serem tão idênticos aos de Jesus, e porem terem ocorrido um século antes do nascimento de Cristo, a Igreja destruiu praticamente todos os vestígios da sua obra, dos seus livros, e da sua existência. Nuctemeron significa «o dia e a noite», simbolizando o dia que nasce da noite. A obra de Apolónio esta dividida em doze horas como num relógio, e cada hora corresponde a um ensinamento espiritual.
Alguns dos demónios revelados no Nuctemeron, e mais frequentemente invocados pelas bruxas nos seus trabalhos de magia negra, são:
Camaysar – Camaysar é um dos demónios da quinta hora de Nuctemeron. Camaysar é o demónios que favorece o casamento dos contrários.
Tabris – é um dos demónios da sexta hora de Nuctemeron, o demónio do livre-arbítrio.
Tacritam – é um dos demónios da quinta hora de Nuctemeron, o demónio da magia negra.
Zahun – primeira hora de Nuctemeron, o demónio dos escândalos
Zalburius – demónio da oitava hora de Nuctemeron, o demónios das terapêuticas
Zaren – demónio da sexta hora de Nuctemeron, o demónio da vingança
Zeirna – demónio da quinta hora de Nuctemeron, o demónio das enfermidades
Phaldor – e demónio da décima primeira hora de Nuctemeron,o demónio dos oráculos
Phalgus – demónio da quarta hora de Nuctemeron, o demónio do julgamento
Pharzuph – demónio da quarta hora de Nuctemeron, o demónio da fornicação
Lewis Spence (1874 – 1955), notório ocultista escocês e autor da «Enciclopaedia of Occultism» ( 1920), faz notar que desde a Antiguidade e durante a Idade Média, o Nuctemeron de Apolónio foi usado para a celebração dos mais fortes trabalhos de magia negra, sendo os seus saberes empregues na invocação de demónios e espíritos de mortos.
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