Magia negra e o sangue das bruxas
O sangue da própria bruxa, sempre foi considerado com um poderoso veiculo para a magia negra, e para as forças espirituais que habitam na bruxa. Sendo a bruxa alguém possesso voluntáriamente por um demonio, havia duas coisas que eram particularmente temidas na bruxa: o seu olhar contagiante através do qual a bruxa podia lançar mau-olhado ou olho-gordo, assim como o seu sangue, pois que era um sangue no qual – através do Pacto do o demonio – estava diluída a essência de um espírito de trevas, e que por isso podia gerar todo o tipo de maldiçoes. Havia por isso duas coisas que comummente se evitavam numa bruxa: ser apanhado pelo seu olhar, ou ser tocado pelo seu sangue. Um olhar de uma bruxa aliado a um encantamento por ela murmurado, podia gerar desgraças. Um toque no sangue de uma bruxa enquanto ela sursurrasse um encantamento, podia infestar com uma maldição.
De acordo com o monge beneditino Graciano, autor do «Decretum» (1140-1142) – uma compilação de textos eclesiásticos de direito canónico –, o uso de algumas gotas de sangue misturas em água é extremamente eficiente no rito de exorcismo de certos espíritos invocados através de necromancia, ou magia negra. Assim era reconhecido pela igreja, a importância do sangue em ritos de magia negra.
Usar do próprio sangue para invocar a um poderoso espírito, isso é noção que já vem de há milénios, e era praticada nas religiões pagãs da antiguidade. No culto ao Deus Baal, os sacerdotes de Baal dançavam em torno do altar até entrarem num estado de transe, de tal forma que estando nesse estado de êxtase chegavam-se a cortar, derramando o seu próprio sangue, que era oferendado ao Deus como sacrifício. ( 1 Reis 18:28) O sacerdote é um homem consagrado a uma divindade, e por isso o sangue de um sacerdote é um poderoso chamamento a essa divindade, com quem o sacerdote possui um vinculo intimo, selado e oficializado nos seus sacramentos sacerdotais para com esse Deus. Daí que os sacerdotes de Baal aspergissem gotas do seu próprio sangue sobre o altar, ou sobre os encantamentos que estavam a celebrar, pois que fazendo – e com o seu próprio sacrifício – estavam a invocar ao Deus, á sua presença, e ao aceitamento dos seus ritos por parte do Deus. Essa é precisamente a mesma técnica oculta que as bruxas usam ao derramar gotas do seu sangue num trabalho de magia negra. No culto a Baal, a congregação de crentes beijava as imagens de Baal, seguindo-se-lhe a celebração de festins lascivos, que é exactamente a mesma pratica espiritual que as bruxas usam nos seus Sabbats Negros. Daí que se confirme que as praticas místicas da magia negra celebradas pelas bruxas nos seus trabalhos de magia negra, são na verdade ensinamentos e ritos que já existem há milénios.
Desde o início dos tempos que o sangue é considerado um selo inviolável para ratificar um compromisso. Heródoto, um historiador greco nascido no século V a.C, narrava como compromissos entre grandes reis e nobres senhores era por vezes selado enchendo-se uma taça de vinho, na qual gotas do sangue de ambos os outorgantes era derramadas, e sendo depois a taça bebida por ambos, estabelecendo-se assim um laço de irmandade entre os homens, e um vinculo inquebrável quanto á palavra dada. Pompónio Mela, um outro autor grego do século I a.C, relatou igualmente semelhante costume de usar o sangue como selo de honra para outorgar compromissos de forma solene e inviolável. Já na Idade Media, Giraldus ( 1479 – 1552), um poeta e estudioso Italiano, também descrevia na sua obra Topographia Hibernorum, como os homens quando concluíam tratados, bebiam o sangue um do outro, que ambos derramavam voluntariamente. O sangue tem por isso, desde sempre assumido um valor precioso quando se trata de selar contratos. E no caso das bruxas, o sangue associado a encruzilhadas, tem sempre sido elementos chave na celebração de pactos com o diabo.
Dizem a maioria dos antigos grimórios e tradições, que o pacto celebrado entre uma bruxa e o Diabo, é selado com sangue da própria aspirante a bruxa. O notório padre e ocultista Montagne Summers (1880- 1948), ao debruçar-se sobre o assunto do Pacto com o Diabo, faz nota de um certo homem de nome Joseph Egmund Schultz que vivia na Baviera. Na noite de 15 de Maio do ano de 1671, o cavalheiro bávaro dirigiu-se a uma encruzilhada de três estradas, onde ali lançou ao chão dessa encruzilhada um pergaminho. No pergaminho, constava um pacto com o Satanás escrito e assinado com o seu próprio sangue. As velhas tradições dizem que assim deve ser feito, e já na lendária historia de Fausto pode-se constatar como cortando ao de leve o seu próprio polegar, o mesmo usou das gotas do seu sangue que escorreu, para escrever de corpo e alma ao Diabo, repudiando á cristandade, e oferecendo-se como fiel servidor satanista. O mesmo fez o bávaro Schults, depois dirigindo-se a uma encruzilhada onde ali depositou o seu contrato demoníaco, como quem deposita uma carta num marco de correio, esperando que o seu infernal destinatário aceitasse a sua proposta, pois é sempre prerrogativa do Diabo aceitar ou ignorar os pedidos que se lhe enviam.
O sangue da bruxa ao entrar em contacto com o Pacto com o Diabo, fica contaminado pela essência demoníaca do espírito de trevas com que a bruxa compactuou, como também se contamina e corrompe pela essência da abominável heresia praticada e consumada naquele momento . Daí em diante, será para sempre um sangue amaldiçoado com os dons da bruxaria, e contagiado pelo Diabo, e que por isso adquire certas propriedades espirituais incomuns, podendo por isso ser usado para propagar virulentas maldições, contagiando tudo aquilo que alcança através da magia negra, e contaminando tudo aquilo que toca através de bruxedo. Na Idade Média, para aqueles que lidavam com bruxas, aquilo que mais se temia era o contágio de uma bruxaria malévola ou virulenta através do mau olhado da bruxa, ou através do contacto com o seu sangue. O sangue de um bruxo , sendo o sangue de alguém que possui forte vinculo com o mundo do espírito, é um selo de outorgação poderoso em qualquer forte trabalho de magia negra. É com o seu sangue que a bruxa assina o pacto com o demónio. Por isso, o seu sangue e a essência do demónio juntam-se nesse momento, passando uma pequena parte da essência do demónio a diluir-se no sangue da bruxa. Daí em diante, o sangue da bruxa passará a ser a assinatura pela qual lhe foram concedidos os ímpios sacramentos satânicos, e o selo pelo qual a bruxa se identifica a este mundo, e ao outro, enquanto serva do Diabo. O seu sangue é veiculo de magia negra, pois ao seu sangue respondem os espíritos de trevas. O seu sangue é elo e ponte entre o mundo dos vivos, e o mundo dos mortos, pois no seu sangue flui uma parte humana e viva deste mundo dos vivos, assim como – ao mesmo tempo, e ali diluída – a essência de um demonio, e por isso o mundo dos mortos, o reino do Além-túmulo. Apenas umas gotas de sangue da bruxa derramadas num bruxedo, são um chamariz irrecusável aos espíritos, e uma ordem inegável aos demonios. Uma bruxaria feita com o sangue de uma pessoa comum será perfeitamente inofensiva e ineficaz, pois apenas o sangue de bruxa é que acciona a magia negra através do forte chamamento que faz ao Diabo. Ao mesmo tempo, apenas umas gotas desse sangue passarão a ser como uma impressão digital que identifica a bruxa no mundo do espírito, e diante dos demónios. A esta impressão digital, eles são obrigados a responder, e a aparecer uma vez invocados por esse meio. Uma vez que é no sangue que reside a força-vital dos seres, pois é o sangue da bruxa que concede vida aos seus bruxedos, conforme Deus concedeu vida ao homem. È uma heresia que o Satanás procurou recriar, ao fazer da bruxa uma criadora de vida, tal conforme Deus, sendo porem que se Deus criou toda a vida conforme o seu desígnio, já porem a bruxa cria a vida dos seus bruxedos conforme os negros desígnios da magia negra, e do demónio. Algumas gotas do mindinho ou indicador de uma bruxa, são o ingrediente que dá vida a um bruxedo verdadeiro, e isso foi um segredo conhecido dos demonologistas da Idade Media.
Sabe-se que Catherine de Medici (1519-1589) usou de sangue numa missa negra celebrada em favorecimento da saúde do seu filho. O mesmo uso de algumas gotas do próprio sangue de bruxa sucedeu com a famosa bruxa francesa do século XVII, Catherine Deshayes. Deshayes foi uma celebre bruxa que, junto com a sua sobrinha e acólita de dezasseis anos, celebrou diversas Missas Negras numa capela por sí edificada, e onde os demonios Asmodeus e Astaroth eram venerados. Entre os seus seguidores e frequentadores de tais missas negras, encontrava-se membros da mais alta elite da sociedade francesa, ( incluindo princesas e vários nobres da família real), que colhiam os bons resultados destes trabalhos de magia negra.
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